sexta-feira, 12 de julho de 2019

Peixes de água doce terão que comer mais detritos e vegetais para sobreviver ao aquecimento global, diz estudo de brasileiros



A elevação das temperaturas do planeta por causa do aquecimento global fará com que algumas espécies de peixes de água doce tenham que alterar seus hábitos alimentares e comer mais vegetais e detritos para sobreviver, prevê um estudo de pesquisadores brasileiros publicado na revista "Ecography" na segunda-feira (8). Eles estudaram peixes de grande porte que vivem em ambientes de água doce tropicais. Essas espécies precisam de mais energia e têm uma alimentação diferente dos peixes de mesmo tamanho que vivem no mar ou em ambientes temperados, mais frios. São peixes que terão de se adaptar a temperaturas mais altas. O estudo observou a influência da temperatura na relação entre o tamanho do organismo dos peixes e a sua função na teia alimentar. Após analisar 3.635 espécies de peixes, pesquisadores preveem que, entre outros possíveis impactos, o aquecimento global pode influenciar a dieta das espécies num futuro não muito distante. O estudo foi realizado por uma equipe liderada pelo professor José L. Attayde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e por Danyhelton Dantas, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Amazônica (Cepam). Um dos co-autores, o pesquisador Ronaldo Angelini, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), explicou ao G1 que "os ecossistemas marinhos permitem às suas espécies se deslocarem mais e encontrarem outras fontes de energia, o que as afetaria menos comparativamente às espécies de água doce". Ele conta que a diversificação alimentar deve se tornar uma vantagem para os peixes, assim como já é para os humanos. Por isso, as espécies de água doce serão as mais impactadas nesse aspecto. Aquelas que não se adaptarem às novas condições, correm sérios riscos. Conforme o estudo, o clima não afeta na mesma proporção a posição dos peixes de água salgada na cadeia alimentar. Segundo Rafael Guariento, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), os peixes de água doce não têm muita opção: "usam a energia dos estratos mais baixos da cadeia alimentar, incluindo em sua dieta alimentos ricos em carbono como folhas, frutos e sementes, possivelmente provenientes do ambiente terrestre”. O carbono é a fonte de energia para o metabolismo dos organismos vivos. Como os peixes maiores basicamente "engolem" peixes menores para se alimentar, eles têm uma posição mais alta na cadeia alimentar. "Mas aí temos outro problema: quanto maior o corpo, maior a necessidade de energia”, explica Dantas. Em águas com temperatura mais alta, como nos ambientes tropicais, os peixes tendem a gastar mais energia. Portanto, precisam comer mais carbono do que aqueles peixes de mesmo tamanho que vivem em climas temperados, mais frios. Por isso, eles acabam se alimentando de plantas e detritos ricos em carbono. Uma evidência disso é o fato de que há mais espécies aquáticas herbívoras e onívoras nos trópicos. Em outras palavras: a temperatura tem um impacto na comida aquática disponível para os peixes.

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Depois de mais de 30 anos o Japão libera a caça comercial às baleias



A primeira caça comercial de baleias no Japão após mais de 30 anos de proibição foi considerada um sucesso pelos pescadores, o que provoca temores a respeito do futuro desses animais e inquieta os ambientalistas. Horas depois de saírem para o mar, os navios retornaram com duas baleias minke. As embarcações, que devem passar a maior parte do verão em atividade, poderão capturar 227 animais, sendo 150 baleias-bicudas-de-baird, 52 baleias minke e 25 baleias-sei, de acordo com a cota estabelecida pela Agência de Pesca. Entre as três, apenas baleias-sei estão listadas como ameaçadas de extinção, de acordo com a CNN. Em dezembro, o Japão deixou a Comissão Baleeira Internacional (IWC, na sigla em inglês) da qual era membro desde 21 de abril de 1951. A organização foi criada para garantir a preservação desses cetáceos e impedir sua caça indiscriminada nos oceanos. A decisão de sair da comissão foi resultado de anos de campanha de defensores da indústria e do primeiro-ministro, Shinzo Abe, que conta em sua base eleitoral com o apoio de uma cidade que manteve a pesca por muito tempo. Em 1986, a Comissão impôs a proibição da caça comercial, depois que algumas espécies foram praticamente levadas à extinção pela pesca predatória. Em 1987, o país iniciou pescas com “fins científicos”, visando reunir o que classificou com dados populacionais cruciais. O Japão suspendeu a caça comercial em 1988. Porém, a carne dos animais mortos sob essa prerrogativa acabava sendo comercializada- algo que era amplamente criticado por ambientalistas. O Japão iniciou a caça às baleias para pesquisas científicas um ano após uma proibição de 1986 à caça comercial, visando reunir o que classificou com dados populacionais cruciais, mas abandonou a caça comercial em 1988. As autoridades japonesas dizem que comer baleias é parte da cultura local. Algumas comunidades na costa do país caçaram-nas por séculos, mas o consumo só cresceu no país após a Segunda Guerra Mundial, quando os animais eram a principal fonte de carne.

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Dourado, o peixe que virou símbolo da conservação da biodiversidade no Pantanal





O Pantanal abriga pelo menos 300 espécies conhecidas de peixes em seu vasto Rio Paraguai e em centenas de quilômetros de afluentes, mas só uma carrega título de realeza: o dourado (Salminus brasiliensis). Conhecido como "rei do rio" por seu comportamento de predador, por seus saltos para fora d'água e por travar embates com a vara do pescador que podem durar horas, ele ganhou, neste ano, uma proteção diferenciada dos demais: seu abate está proibido em todo o território de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Isso quer dizer que os pescadores podem fisgar o peixe, mas não matá-lo. Se alguém soltar a linha no rio e um dourado morder a isca, a orientação é não provocar ferimentos e devolvê-lo à natureza o quanto antes (assista, no vídeo acima, a uma das 'histórias de pescador' que o G1 ouviu no Desafio Natureza). Não existiam evidências científicas concretas quando, em 2009, Cáceres (MT) se tornou o primeiro município a proteger o dourado em seus rios – permitindo que os pescadores apenas retirassem o peixe do anzol e o devolvessem à natureza. Mas também não faltavam impressões empíricas, segundo os moradores locais, de que o tamanho dos dourados capturados eram cada vez menores. A sabedoria popular tem levado a melhor desde então: em 2012, o estado de Mato Grosso seguiu os passos de Cáceres; no ano seguinte, foi a vez do município de Corumbá (MS). Em janeiro de 2019, o abate do chamado "rei do rio" se tornou proibida em todo o território de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Foi assim que o dourado se tornou o símbolo das políticas de conservação da biodiversidade na região. Ao contrário da cota zero, que foi recebida com críticas por diversos setores em Mato Grosso do Sul, a proibição da pesca do dourado é bem-vinda no estado. "A gente até é a favor da proibição, porque é um peixei muito bonito, é brigador", elogia Carlos Eduardo Murad de Goes, conhecido na região de Miranda (MS) como Alemão. Ali, a presença do peixe é sazonal, segundo ele, porque as águas do Rio Miranda são barrentas, e o dourado prefere águas limpas, onde ele pode caçar peixes menores para comer, além de ter hábitos diurnos. "É um predador visualmente orientado, que tem uma forma específica de capturar", explica Agostinho Catella, pesquisador da Embrapa Pantanal, em Corumbá (MS). Para acompanhar esses hábitos, muitos pescadores usam uma isca artificial, que imita um desses peixes, para tentar enganar o "rei do rio". Se em Miranda a espécie costuma dar as caras entre julho e setembro, a 300 km no sentido da Bolívia a aparição do dourado costuma se concentrar entre março e maio, explica o empresário de turismo. "Estava tendo só a maioria de dourado pequena, então realmente acho que essa medida foi muito boa", diz Alemão.
Fotos: Edemir Rodrigues e Andréia Gelain Cargnin

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Tartaruga ganha prótese feita de Lego após perder patas traseiras


Pedro, a tartaruga, foi adotado por uma família sem ter uma das patas de trás. Depois de um tempo, ele fugiu e voltou sem a outra. Ficou meses perdido. Foi então que a dona, Sandra Taylor, resolveu levá-lo até a faculdade de medicina veterinária da Universidade do Estado da Luisiana: ele recebeu uma prótese veicular feita com Lego. A tartaruga macho estava com a saúde em dia, de acordo com os médicos. Só precisa de uma ajuda para se locomover. "A ferida já tinha cicatrizado bem e ele conseguiu voltar pra casa só com as patas da frente. Sem as patas traseiras, ele fica com menos mobilidade. Como Pedro é uma tartaruga-de-caixa, ele ainda pode se esconder dentro do casco e se proteger, mas os donos teriam que deixar ele sempre dentro de casa", disse Kelly Rockwell, estudante da Universidade do Estado da Luisiana. O grupo de estudo da universidade usou um kit veicular de Lego. Ele foi adaptado e usaram resina epóxi para anexar ao casco - o mesmo material usado em ferraduras. Os médicos também usaram seringas para criar os eixos, com pequenos cortes para ajustar. "A faculdade de veterinária pode ser difícil às vezes, mas sentar no chão com meus colegas e ver os professores felizes por Pedro poder 'rolar' pela primeira vez, foi um momento de pura alegria", disse a veterinária Sarah Mercer. De acordo com a universidade, os donos da tartaruga ficaram entusiasmados com o resultado.