quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Praias brasileiras têm encalhe recorde de 97 baleias só em 2017


Binóculo pendurado no pescoço, óculos de sol e muito protetor solar. Todos os anos, centenas de turistas visitam o litoral brasileiro para observar baleias-jubarte, que se reproduzem principalmente em Abrolhos, na costa da Bahia. Mas neste ano, além dos saltos e jatos d'água em alto mar, os turistas também puderam notar uma atividade bem mais passiva nas areias locais. Desde o início de 2017, 97 baleias encalharam no litoral brasileiro e apenas duas sobreviveram, segundo balanço do Projeto Baleia Jubarte. Esse é o maior número de casos desde o início dos registros, em 2002. Veterinários especialistas em baleias ouvidos pela BBC Brasil alertam que esse número deve subir ainda mais até o fim do ano. Isso porque o pico de encalhes ocorre em agosto e setembro.

Japão mata 177 baleias na costa do Pacífico para 'fins científicos'



Os japoneses mataram 177 baleias na costa nordeste do arquipélago no Pacífico, em uma missão que teria "fins científicos", segundo anunciou nesta terça-feira (26) a agência de pesca japonesa. Três navios especializados em caça às baleias iniciaram a missão em junho e capturaram 43 baleias Minke e 143 baleias-sei, de acordo com a agência. Segundo os japoneses, a caça às baleias seria "necessária" para calcular a quantidade de potenciais capturas a longo prazo, justificou a agência, que tem como objetivo "retomar algum dia a pesca comercial", segundo explicou o funcionário da agência Kohei Ito. O Japão é signatário da moratória da caça às baleias da Comissão Baleeira Internacional (CBI), mas afirma que recorre à medida com fins de pesquisa, no Pacífico e na Antártica. As organizações de defesa das baleias denunciam a alegação japonesa, assim como vários países, que consideram que Tóquio utiliza de maneira desonesta uma exceção da proibição da caça aos cetáceos, de 1986. Em 2014, o Tribunal Internacional de Justiça exigiu de Tóquio o fim da caça às baleias no Atlântico, por considerar que os japoneses não cumpriam os critérios científicos exigidos. O Japão cancelou a temporada de caça de inverno de 2014-2015, mas retomou a pesca no ano seguinte. O Oceano Antártico já foi cenário de confrontos entre baleeiros japoneses e defensores dos cetáceos. No mês passado, a organização ecologista Sea Shepherd anunciou a desistência de tentar impedir a ação dos baleeiros japoneses no Sul, reconhecendo seus próprios limites ante a potência marítima nipônica. A Noruega, que se opôs à moratória de 1986 e considera que esta não a afeta, e a Islândia, são os únicos dois países no mundo que praticam abertamente a caça comercial. O Japão tenta provar que a população de cetáceos é suficientemente grande para suportar a retomada da caça comercial. O consumo da baleia tem uma longa tradição no Japão, onde a caça é praticada há muitos séculos. A indústria baleeira teve seu auge depois da Segunda Guerra Mundial. Mas a demanda dos consumidores japoneses caiu consideravelmente nos últimos anos, o que provoca muitos questionamentos sobre o sentido das missões científicas.

Cientistas brasileiros usam canto e DNA para identificar nova perereca no Cerrado


Cientistas brasileiros anunciaram a descoberta de uma nova espécie de anfíbio no Cerrado, o que evidencia, segundo eles, o potencial ainda inexplorado (e ameaçado) desse bioma no Centro-Oeste do Brasil. A perereca Pithecopus araguaius foi primeiro avistada pelos pesquisadores - ligados às universidades Unicamp, em São Paulo, e Federal de Uberlândia (UFU), em Minas Gerais - em estudos de campo em 2010. Desde então, foi possível confirmar que se tratava de uma nova espécie graças a extensos estudos de DNA e análises morfológicas (da aparência do animal), além de dados acústicos dos sons emitidos pelo anfíbio, distintos dos emitidos até mesmo por pererecas da mesma família Pithecopus. "O canto serve para que a fêmea reconheça o macho da mesma espécie. Isso nos ajudou a diagnosticar que era (uma espécie) diferente das espécies irmãs", explica à BBC Brasil o taxonomista Felipe Andrade, um dos autores da pesquisa - recém-publicada no periódico científico Plos One - ao lado de Isabelle Aquemi Haga, Daniel Pacheco Bruschi, Shirlei Recco-Pimentel e Ariovaldo Giaretta. Além disso, os pesquisadores notaram que a araguaius tem a cabeça e o corpo de tamanho um pouco menor que suas irmãs do grupo Pithecopus e um padrão diferente (que os cientistas chamam de não reticulado) de manchas no corpo. Há, agora, 11 tipos de Pithecopus documentados, sendo o araguaius o mais novo deles. Algumas pererecas dessa família preferem altitudes mais elevadas, o que também as diferencia da araguaius, que habita terras baixas. "O reconhecimento da Pithecopus araguaius é importante para o conhecimento da riqueza de anfíbios e diversificação de padrões nessa região", diz trecho do artigo publicado no site da "Plos One." A araguaius foi descoberta na cidade de Pontal do Araguaia, no Mato Grosso, à beira do rio Araguaia - daí seu nome. Posteriormente, os cientistas documentaram a existência da nova espécie também na Chapada dos Guimarães e na cidade mato-grossense de Santa Terezinha. "A descoberta mostra que em 2017 ainda temos espécies a serem descritas no Cerrado, uma região com alto índice de biodiversidade e sob forte impacto da ação humana", afirma Andrade. Seu orientador, Ariovaldo Giaretta, acrescenta à BBC Brasil que o fato de essa região do Brasil estar sob pressão - sobretudo pela expansão do agronegócio - pode colocar em risco eventuais descobertas de outras espécies. "Por acaso achamos essa nova espécie. Quantas outras podem existir? E não temos ideia de o que está sendo perdido nas áreas (de Cerrado) que estão sumindo", diz Giaretta. "Se novos vertebrados ainda estão aparecendo (nas pesquisas), pode haver outras criaturas vivas - invertebrados, plantas. (...) É estarrecedor que (muitas áreas) estejam virando pasto para boi." No estudo, os pesquisadores citam o Cerrado como "um dos mais ameaçados hotspots da Terra, sobretudo pela perda de hábitats por conta do desenvolvimento urbano e agrícola". E a própria araguaius pode estar sob perigo de extinção, por ser uma perereca que habita áreas baixas e, portanto, de interesse do agronegócio. "Ainda precisamos de muitos esforços para conhecer nossa biodiversidade do Cerrado e mais ainda da Amazônia", opina Andrade.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Descobertos primeiros animais que não escutam a própria voz


Quando o sapinho-pingo-de-ouro, que vive na Mata Atlântica, canta para alguma fêmea, o som nunca atrai nenhuma pretendente. O problema não é a qualidade do som: cientistas descobriram que os machos de duas espécies do sapo, apesar de emitirem cantos, não são ouvidos nem pelo sexo oposto, nem por outros machos. Os sapos não param para ouvir os chamados, não se orientam na direção deles e não mudam seu comportamento apesar do canto estar sendo emitido. Tetra-se do primeiro caso registrado de espécie do reino animal que não escuta a própria voz, segundo os cientistas. Um estudo publicado na revista Scientific Reports, da Nature, nesta quinta-feira (21/09), comparou dois sapos do gênero Brachycephalus, o Brachycephalus ephippium e o Brachycephalus pitanga, que medem cerca de dois centímetros, a um sapo do mesmo tamanho, Ischnocnema parva, e chegaram à conclusão que as duas primeiras espécies não têm tímpanos. Elas possuem órgãos auditivos na orelha interna que detectam frequências sonoras graves e agudas, mas não a da própria voz. A descoberta surpreende, pois os sistemas de comunicação animal normalmente exigem a evolução conjunta de sistemas de emissão e recebimento de mensagens. Uma análise com eletrodos no cérebro dos sapinhos também mostrou que não há resposta neurológica ao canto da própria espécie. O estudo foi inciado pela ecóloga francesa Sandra Goutte, contou com colaborações no Reino Unido, na Dinamarca, do Instituto Butantan, em São Paulo, e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Como a seleção natural tenderia a atuar contra esse tipo de característica, já que o canto aparentemente não beneficia os animais, pode atrair predadores e ainda requer energia para ser produzido, os cientistas se depararam com a pergunta: por que esses sapos ainda cantam? Uma das hipóteses é que a comunicação é visual, e não auditiva. O movimento do saco vocal enquanto os sapos cantam pode ser atraente para as fêmeas. Além disso, como os sapos possuem uma forte toxina na pele e em órgãos internos, eles não têm tantos problemas com os predadores. Assim, pode ser que a perda da audição para o próprio canto seja um fenômeno evolutivo relativamente recente, como parte de um processo evolutivo em andamento.