sábado, 30 de setembro de 2017

Após tsunami, quase 300 espécies viajaram do Japão aos EUA


O tsunami que devastou a costa leste do Japão em 2011 fez com que quase 300 espécies marinhas viajassem através do Pacífico até o litoral dos Estados Unidos, na maior e mais longa migração marinha já registrada. Um grupo de cientistas americanos realizou buscas em praias dos estados de Washington, Oregon, Califórnia, Columbia Britânica, Alasca e Havaí, onde rastrearam a origem das espécies até o Japão, segundo o estudo divulgado nesta quinta-feira (28) pela revista científica "Science". "Este acabou sendo um dos maiores experimentos naturais não planejados na biologia marinha – talvez na história", afirmou o especialista John Chapman da Universidade Oregon State, um dos coautores do estudo, citado pelo jornal britânico "The Guardian". O tsunami, resultante de um terremoto de magnitude 9,0 no dia 11 de março de 2011, gerou em torno de cinco milhões de toneladas de escombros nos municípios de Iwate, Miyagi e Fukushima. Segundo os especialistas, 70% dos destroços se depositaram no fundo do mar, mas uma quantidade incontável de objetos flutuantes foi arrastada pelas correntes marítimas. A chegada das quase 300 espécies japonesas à costa oeste dos EUA poderá causar sérios problemas caso esses organismos consigam se fixar no novo ambiente, se sobrepondo às espécies nativas. Os pesquisadores estimam que aproximadamente um milhão de organismos -- entre eles peixes, moluscos e centenas de milhares de mexilhões -- viajaram quase 8 mil quilômetros através das correntes do Pacífico Norte. Levará anos até que seja possível avaliar a sobrevivência desses seres e se conseguirão superar em quantidade as espécies nativas. O problema das espécies invasoras ocorre em todo o mundo, com plantas e animais sobrevivendo em locais onde não antes pertenciam. No passado, invasões marinhas danificaram espécies de moluscos, erodiram ecossistemas locais, gerando prejuízos econômicos e disseminando doenças. "A diversidade [das espécies invasoras] foi algo que nos deixou boquiabertos", afirmou Carlton. "Moluscos, anêmonas-do-mar, corais, caranguejos, uma ampla variedade de espécies." Os pesquisadores coletaram e analisaram destroços que chegaram à costa oeste americana ou ao Havaí nos últimos cinco anos, sendo que a chegada de mais escombros ainda era registrada em Washington nesta quarta-feira. No ano passado, um pequeno barco japonês alcançou a costa do Oregon transportando vinte peixes nativos do oeste do Pacífico. Os animais, ainda vivos, foram conservados em um aquário do estado. Pouco antes, um barco de pesca japonês chegou intacto à costa americana com exemplares desses mesmos peixes nadando na parte interna. Anteriormente, os destroços desse tipo eram compostos na maior parte por madeira e se degradavam durante a viagem pelo oceano. Hoje em dia, a maior parte é de materiais de plástico – como boias, barcos e engradados – que conseguem percorre longas distâncias, levando "de carona" espécies diferentes. "Foram os escombros de plástico que permitiram que as novas espécies sobrevivessem em uma distância muito maior do que jamais pensávamos que podiam", disse Carlton.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Praias brasileiras têm encalhe recorde de 97 baleias só em 2017


Binóculo pendurado no pescoço, óculos de sol e muito protetor solar. Todos os anos, centenas de turistas visitam o litoral brasileiro para observar baleias-jubarte, que se reproduzem principalmente em Abrolhos, na costa da Bahia. Mas neste ano, além dos saltos e jatos d'água em alto mar, os turistas também puderam notar uma atividade bem mais passiva nas areias locais. Desde o início de 2017, 97 baleias encalharam no litoral brasileiro e apenas duas sobreviveram, segundo balanço do Projeto Baleia Jubarte. Esse é o maior número de casos desde o início dos registros, em 2002. Veterinários especialistas em baleias ouvidos pela BBC Brasil alertam que esse número deve subir ainda mais até o fim do ano. Isso porque o pico de encalhes ocorre em agosto e setembro.

Japão mata 177 baleias na costa do Pacífico para 'fins científicos'



Os japoneses mataram 177 baleias na costa nordeste do arquipélago no Pacífico, em uma missão que teria "fins científicos", segundo anunciou nesta terça-feira (26) a agência de pesca japonesa. Três navios especializados em caça às baleias iniciaram a missão em junho e capturaram 43 baleias Minke e 143 baleias-sei, de acordo com a agência. Segundo os japoneses, a caça às baleias seria "necessária" para calcular a quantidade de potenciais capturas a longo prazo, justificou a agência, que tem como objetivo "retomar algum dia a pesca comercial", segundo explicou o funcionário da agência Kohei Ito. O Japão é signatário da moratória da caça às baleias da Comissão Baleeira Internacional (CBI), mas afirma que recorre à medida com fins de pesquisa, no Pacífico e na Antártica. As organizações de defesa das baleias denunciam a alegação japonesa, assim como vários países, que consideram que Tóquio utiliza de maneira desonesta uma exceção da proibição da caça aos cetáceos, de 1986. Em 2014, o Tribunal Internacional de Justiça exigiu de Tóquio o fim da caça às baleias no Atlântico, por considerar que os japoneses não cumpriam os critérios científicos exigidos. O Japão cancelou a temporada de caça de inverno de 2014-2015, mas retomou a pesca no ano seguinte. O Oceano Antártico já foi cenário de confrontos entre baleeiros japoneses e defensores dos cetáceos. No mês passado, a organização ecologista Sea Shepherd anunciou a desistência de tentar impedir a ação dos baleeiros japoneses no Sul, reconhecendo seus próprios limites ante a potência marítima nipônica. A Noruega, que se opôs à moratória de 1986 e considera que esta não a afeta, e a Islândia, são os únicos dois países no mundo que praticam abertamente a caça comercial. O Japão tenta provar que a população de cetáceos é suficientemente grande para suportar a retomada da caça comercial. O consumo da baleia tem uma longa tradição no Japão, onde a caça é praticada há muitos séculos. A indústria baleeira teve seu auge depois da Segunda Guerra Mundial. Mas a demanda dos consumidores japoneses caiu consideravelmente nos últimos anos, o que provoca muitos questionamentos sobre o sentido das missões científicas.

Cientistas brasileiros usam canto e DNA para identificar nova perereca no Cerrado


Cientistas brasileiros anunciaram a descoberta de uma nova espécie de anfíbio no Cerrado, o que evidencia, segundo eles, o potencial ainda inexplorado (e ameaçado) desse bioma no Centro-Oeste do Brasil. A perereca Pithecopus araguaius foi primeiro avistada pelos pesquisadores - ligados às universidades Unicamp, em São Paulo, e Federal de Uberlândia (UFU), em Minas Gerais - em estudos de campo em 2010. Desde então, foi possível confirmar que se tratava de uma nova espécie graças a extensos estudos de DNA e análises morfológicas (da aparência do animal), além de dados acústicos dos sons emitidos pelo anfíbio, distintos dos emitidos até mesmo por pererecas da mesma família Pithecopus. "O canto serve para que a fêmea reconheça o macho da mesma espécie. Isso nos ajudou a diagnosticar que era (uma espécie) diferente das espécies irmãs", explica à BBC Brasil o taxonomista Felipe Andrade, um dos autores da pesquisa - recém-publicada no periódico científico Plos One - ao lado de Isabelle Aquemi Haga, Daniel Pacheco Bruschi, Shirlei Recco-Pimentel e Ariovaldo Giaretta. Além disso, os pesquisadores notaram que a araguaius tem a cabeça e o corpo de tamanho um pouco menor que suas irmãs do grupo Pithecopus e um padrão diferente (que os cientistas chamam de não reticulado) de manchas no corpo. Há, agora, 11 tipos de Pithecopus documentados, sendo o araguaius o mais novo deles. Algumas pererecas dessa família preferem altitudes mais elevadas, o que também as diferencia da araguaius, que habita terras baixas. "O reconhecimento da Pithecopus araguaius é importante para o conhecimento da riqueza de anfíbios e diversificação de padrões nessa região", diz trecho do artigo publicado no site da "Plos One." A araguaius foi descoberta na cidade de Pontal do Araguaia, no Mato Grosso, à beira do rio Araguaia - daí seu nome. Posteriormente, os cientistas documentaram a existência da nova espécie também na Chapada dos Guimarães e na cidade mato-grossense de Santa Terezinha. "A descoberta mostra que em 2017 ainda temos espécies a serem descritas no Cerrado, uma região com alto índice de biodiversidade e sob forte impacto da ação humana", afirma Andrade. Seu orientador, Ariovaldo Giaretta, acrescenta à BBC Brasil que o fato de essa região do Brasil estar sob pressão - sobretudo pela expansão do agronegócio - pode colocar em risco eventuais descobertas de outras espécies. "Por acaso achamos essa nova espécie. Quantas outras podem existir? E não temos ideia de o que está sendo perdido nas áreas (de Cerrado) que estão sumindo", diz Giaretta. "Se novos vertebrados ainda estão aparecendo (nas pesquisas), pode haver outras criaturas vivas - invertebrados, plantas. (...) É estarrecedor que (muitas áreas) estejam virando pasto para boi." No estudo, os pesquisadores citam o Cerrado como "um dos mais ameaçados hotspots da Terra, sobretudo pela perda de hábitats por conta do desenvolvimento urbano e agrícola". E a própria araguaius pode estar sob perigo de extinção, por ser uma perereca que habita áreas baixas e, portanto, de interesse do agronegócio. "Ainda precisamos de muitos esforços para conhecer nossa biodiversidade do Cerrado e mais ainda da Amazônia", opina Andrade.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Descobertos primeiros animais que não escutam a própria voz


Quando o sapinho-pingo-de-ouro, que vive na Mata Atlântica, canta para alguma fêmea, o som nunca atrai nenhuma pretendente. O problema não é a qualidade do som: cientistas descobriram que os machos de duas espécies do sapo, apesar de emitirem cantos, não são ouvidos nem pelo sexo oposto, nem por outros machos. Os sapos não param para ouvir os chamados, não se orientam na direção deles e não mudam seu comportamento apesar do canto estar sendo emitido. Tetra-se do primeiro caso registrado de espécie do reino animal que não escuta a própria voz, segundo os cientistas. Um estudo publicado na revista Scientific Reports, da Nature, nesta quinta-feira (21/09), comparou dois sapos do gênero Brachycephalus, o Brachycephalus ephippium e o Brachycephalus pitanga, que medem cerca de dois centímetros, a um sapo do mesmo tamanho, Ischnocnema parva, e chegaram à conclusão que as duas primeiras espécies não têm tímpanos. Elas possuem órgãos auditivos na orelha interna que detectam frequências sonoras graves e agudas, mas não a da própria voz. A descoberta surpreende, pois os sistemas de comunicação animal normalmente exigem a evolução conjunta de sistemas de emissão e recebimento de mensagens. Uma análise com eletrodos no cérebro dos sapinhos também mostrou que não há resposta neurológica ao canto da própria espécie. O estudo foi inciado pela ecóloga francesa Sandra Goutte, contou com colaborações no Reino Unido, na Dinamarca, do Instituto Butantan, em São Paulo, e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Como a seleção natural tenderia a atuar contra esse tipo de característica, já que o canto aparentemente não beneficia os animais, pode atrair predadores e ainda requer energia para ser produzido, os cientistas se depararam com a pergunta: por que esses sapos ainda cantam? Uma das hipóteses é que a comunicação é visual, e não auditiva. O movimento do saco vocal enquanto os sapos cantam pode ser atraente para as fêmeas. Além disso, como os sapos possuem uma forte toxina na pele e em órgãos internos, eles não têm tantos problemas com os predadores. Assim, pode ser que a perda da audição para o próprio canto seja um fenômeno evolutivo relativamente recente, como parte de um processo evolutivo em andamento.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Após seis meses de tentativas, voluntários conseguem resgatar foca com anel de plástico no pescoço



Uma foca foi resgatada na quinta-feira na praia de Horsey, na costa leste da Inglaterra, com ferimentos "terríveis" causados por um objeto de plástico semelhante a um disco de frisbee. O animal fora visto pela primeira vez com o anel em volta do pescoço quase seis meses antes. Como evitava ser capturado, contudo, ninguém conseguia se aproximar dele para resgatá-lo. Com o passar do tempo, à medida em que a foca crescia, o brinquedo passou a sufocá-la cada vez mais. Voluntários do Friends of Horsey Seals (Amigos das Focas de Horsey, em tradução livre) conseguiram alcançar "Senhora Frisbee", como foi apelidada, nesta quinta-feira e deixaram-na aos cuidados da Sociedade Real para a Prevenção da Crueldade Contra os Animais (RSPCA, na sigla em inglês), que afirmou que sua recuperação pode levar meses. "Enquanto estava saudável, ela estava sempre rodeada por outras focas. Uma delas sempre acabava se assustando e todas fugiam ao mesmo tempo, o que tornava difícil capturá-la", conta Peter Ansell, presidente da Amigos das Focas de Horsey. Recentemente, entretanto, os voluntários notaram que o animal estava mais abatido e que parecia "aflito". As demais focas também haviam-no deixado sozinho. Após a captura, a foca foi levada para o hospital da RSPCA em East Winch, que, assim como Horsey, fica no condado de Norfolk. "Ela está bem melhor. Está viva e comendo peixes", disse o diretor do hospital Alison Charles. "Nós conseguimos retirar o objeto, mas o pescoço dela está terrível. Nunca vi nada parecido". A organização Amigos das Focas de Horsey afirmou ter recebido relatos de uma outra foca com um pneu de borracha em volta do corpo e de uma terceira vista com uma corda em volta do pescoço e da nadadeira. Eles alertam sobre os riscos do depósito de lixo nas praias e no mar.